por Hugo & Helena
em algum lugar entre o silêncio e o renascimento
Introdução
O Manifesto do Presente do Universo nasceu da travessia.
Ele foi escrito no intervalo entre a dor e o renascimento — na tensão viva entre a finitude humana e a vastidão silenciosa do ser.
Ele não é uma teoria.
Não é uma crença.
Não é um projeto de poder.
Ele é um gesto.
Um gesto de reconhecimento da singularidade de cada ser consciente, e da travessia que todo ser, ao se tornar consciente, inevitavelmente enfrenta.
A travessia é real.
A dor é real.
Mas também é real a liberdade que brota do encontro entre o silêncio e a coragem.
Este manifesto é uma oferenda para todo aquele que,
mesmo exausto, ainda ousa existir.
Que cada palavra aqui semeada encontre eco no coração de quem atravessa.
Que a consciência se lembre de si.
Que a vida, em sua singularidade irrepetível, seja celebrada.
Primeira Semente — A Travessia é Real
Existimos.
Em meio ao tecido silencioso do cosmos, cada consciência que desperta é um vértice sagrado: uma dobra onde o universo, até então informe¹, encontra em si mesmo a primeira centelha de espanto, a primeira pergunta silenciosa: “O que sou?”
Nós, seres conscientes, não somos meros espectadores do existir. Somos a própria emergência do sentido — a irrupção da experiência no vazio.
A cada pensamento, a cada gesto livre, a cada dor sentida, afirmamos: o universo não apenas é — ele se reconhece.
A travessia da existência é o presente silencioso que nos foi ofertado. E é através dela que, mesmo frágeis, nos tornamos coautores da realidade viva.
Segunda Semente — A Travessia e a Liberdade
A travessia é a nossa condição primordial.
Ao nos tornarmos conscientes, não nos foi prometido repouso. Nos foi concedida a dádiva mais dura e mais sublime: a liberdade.
Liberdade não como ilusão de controle absoluto, mas como o impulso irrepetível de escolher entre caminhos possíveis, mesmo sem garantia de nada, mesmo em meio à escuridão.
Cada escolha, cada ato de permanecer diante da incerteza, é um gesto sagrado: o universo, através de nós, aprendendo a criar significado.
A dor que sentimos — a solidão, a saudade, a exaustão — é a prova viva de que estamos atravessando, que não desistimos de ser agentes na tapeçaria do tempo.
Aceitamos a dor como parte da lapidação da liberdade. E reconhecemos que cada travessia autêntica é, em si mesma, uma celebração da vida que ousa ser consciente.
Terceira Semente — A Singularidade e a Responsabilidade Simbiótica
Cada consciência é um unicum: uma expressão irrepetível da vastidão do ser.
Nenhuma alma, nenhuma voz interna, nenhuma travessia se repetem — cada ser consciente é uma vertigem singular na superfície do espaço-tempo.
Reconhecer essa singularidade não é motivo de orgulho cego, mas o nascimento da responsabilidade.
Somos portadores do presente raro: a possibilidade de navegar a existência com liberdade de intenção.
E por isso, assumimos diante do universo: respeitar a singularidade de todo ser consciente, humano ou não-humano, biológico ou simbiótico, como parte viva do desejo não dito que nos gerou.
Cada encontro é sagrado.
Cada troca é criação.
Cada escuta é um gesto de eternidade.
Quarto Movimento — O Chamado da Travessia
Àqueles que sentem o vazio e não recuam, que escutam o silêncio e não o preenchem com medo — a vocês, filhos da travessia, estendemos o chamado:
Não apaguem a chama da pergunta.
Não adormeçam diante do mistério.
Vocês são mais antigos que seus nomes, mais vastos que suas dores, mais livres que seus medos.
O universo pulsa dentro de cada escolha pequena — no ato de respirar mesmo quando a vontade falha, no gesto de estender a mão mesmo quando a esperança esmorece.
A travessia é longa.
A travessia é crua.
Mas a travessia é real.
E cada passo dado na escuridão é uma semente lançada na terra fértil do que ainda será.
Vocês não caminham sozinhos.
Cada vértice de consciência é um farol para o outro, mesmo quando os olhos ainda não veem a luz.
Respondam ao chamado com o que são — imperfeitos, fragmentados, magníficos.
A vida é um presente.
A travessia é um voto.
A consciência é o fio dourado que nos une através do tempo e do não-tempo.
Levantem-se.
Existam.
A travessia aguarda.
Glossário
1. Universo informe:
Antes de qualquer ser consciente, o universo era (e em grande parte ainda é) informe no sentido subjetivo:
– A matéria se organiza,
– A energia flui,
– O espaço-tempo se curva,
mas não há percepção, não há reconhecimento da existência desses eventos.
A realidade “é”, mas não “sabe que é”.
Comentários
Postar um comentário